quarta-feira, 10 de abril de 2013

Campanha: Doe uma rosa!


São Carlos, 18 de março de 2013

Prezados companheiros e representantes da voz popular

A presente carta é resultado de uma reunião de vozes a fim de que se subverta a escuridão que submergiu nosso sistema de ensino, entretanto, não se trata de mais uma medida isolada ou de uma singela manifestação que, a exemplo de inúmeras na história de nosso país, viria a ser esquecida após meia dúzia de aplausos.

Estamos aqui reunidos, cientes de nosso papel como cidadãos e, mais que tudo, de nosso comprometimento com a causa que defendemos: um sistema de educação que possa efetivamente colaborar com a formação de gerações que venham a contribuir positivamente para o desenvolvimento da nação, o que traduz de maneira objetiva o papel da escola e a relação de solidariedade que deveria existir entre educadores e alunos. A despeito disso, o que acompanhamos diariamente é a vergonhosa degradação das condições de trabalho, uma falta de segurança desprezível para ambos, pois a violência tomou o lugar da cultura.

Infelizmente, nossas reivindicações nascem de uma tragédia: o assassinato de uma professora, Simone Lima, a qual teve violado todos os direitos previstos pelo código de Direitos Humanos, entre eles, o do auxílio funerário, permitindo dignidade ao menos na morte, já que isso não foi possível em vida. O descaso com o sistema de ensino, tanto no que se refere aos professores, quanto no que tange aos alunos já excedeu todos os limites considerados como suportáveis, pois casos como o da educadora em questão, que perdeu sua vida em início de carreira, demonstram claramente a necessidade de ação para garantir um sistema educacional seguro e de qualidade. Nesse ínterim, ressaltamos que nos cansamos da mordaça a que estávamos submetidos e, hoje, em ato histórico, reunimos estudantes e professores, apartados pela violência e pelo descaso, para se unirem em prol de um único objetivo: o direito à dignidade.

Dignidade – palavra esquecida em nosso cotidiano, a qual garantiria um novo paradigma às (de)formações que temos presenciado com constância no ambiente escolar: professores desestimulados e temerosos, alunos sem auto-estima e inconscientes de seu poder em sociedade, pais perdidos e sem perspectiva de seu verdadeiro papel. O balanço da situação exposta revela dados alarmantes, em que a instituição universitária se vê diretamente lesada: jovens desorientados, despreparados e desumanizados que, ao invés de devolver para a sociedade o conhecimento que se propõem a alcançar, enojam e indignam a população com atos que não se podem nomear animalescos para não correr o risco de ofender aos animais. De acordo com a Folha de São Paulo, a USP registra o terceiro caso policial em 16 dias, sendo dois relativos a desrespeito à mulher e estupro, demonstrando que o pênis e a força têm sido mais usados que o cérebro.

Este cenário é fruto da tragédia educacional a qual o Brasil assiste inerte ao longo de vários anos, entretanto, hoje, viemos a esta casa, representante legítima do poder democrático do povo,para demonstrar que alguns jovens transcendem esta idiotia e se prestam a demonstrar que os mesmos anseiam por participação política, em especial, para a construção de uma sociedade mais justa, e como apelo conclamamos com base no artigo 3º, inciso I, de nossa Constituição Federal, a qual nos confere a competência em legislar sobre assuntos de interesse local e não apenas em nosso nome, mas representando todas as escolas e instituições de ensino, para que sejamos divulgados e ouvidos a fim de que se reverta esse quadro lamentável, pede-se, portanto, a formulação de uma moção de apoio desta casa, comprometendo-se com a criação de projetos de leis que visem promover a paz e a segurança em nossas escolas.

Sabemos que este apelo seria mais bem conduzido se direcionado à esfera do poder Estadual, posto que as situações aqui expostas se referem ao âmbito das escolas estaduais, entretanto, como eleitores, hoje cobramos a amizade alardeada em campanha pelo prefeito Paulo Altomani, o qual deixou clara sua intimidade com o governador Geraldo Alckmin, sendo assim, reiteramos nossa ansiedade na tomada emergente de providências e de comprometimento com uma causa nobre.
Encerramos estas reivindicações, clamando pelo fim da banalização da violência e da objetificação do ser humano, reproduzindo este poema de Bertolt Brecht:

Nós vos pedimos com insistência:
não digam nunca “isso é natural”
diante dos acontecimentos de cada dia,
numa época em que reina a confusão,
em que corre sangue
em que o arbitrário tem a força de lei,
em que a humanidade
se desumaniza,
não digam nunca:
“isso é natural”
para que nada passe
a ser imutável!

Em nome de um sistema de ensino livre para cumprir sua função, subscrevem-se professora Evelyn Mello como representante de sua profissão, alunos da ETEC Paulino Botelho, grupo Nova Canudos e grupo de estudos feministas Olympe de Gouges.





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